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Aniversário do Jason

Não sei, mas estou sentindo que as pessoas estão me escondendo algo. Posso não ser tão ligado assim nas coisas, mas sei que tem um lance errado acontecendo.

— Que cara é essa, Jason? — Jack pergunta como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Nada. Eu tô de boa. — Respondo com a mesma cara lavada que ele.

— Conversa, Jason. Essa sua cara conspiratória não me engana. O que se passa nesse coco? — Ele empurra minha cabeça e a deixo cair para frente.

Moramos todos juntos em Toronto há dois anos. Eu estou aqui um pouco mais de tempo, mas não estou muito diferente dos meus amigos.

A gente ainda tem muita dificuldade besta, como as vezes com o nosso pedido no restaurante, deixar a gorjeta e principalmente, nunca achei que fosse sentir falta dos frentistas. Aqui é praticamente tudo em self service. Horrível. Principalmente quando não temos costume com as bombas de gasolina.

— Não é nada, Jack. Tá tudo numa nice.

— Sei. — Ele passa a bola para mim e continuamos nosso treino de todo sábado.

— Oh, Jack. O que você vai fazer no carnaval?

— Sabe que aqui não tem carnaval, Jason!

— Tem, mas não como no Brasil.

— Ah, vou ficar em casa com a Leslie. Talvez ela peça uma pizza… o de sempre.

Nossa vida na faculdade tem andado tranquila. O técnico disse que se continuarmos com a nossa dedicação conseguimos entrar no Raptors com tranquilidade.

— E você? Marcou alguma coisa com a sua sereia? — Ele pergunta.

— Não sei. Ela não tem falado comigo direito. Estou com medo de ela ter se apaixonado por algum canadense.

— Sabe que existe apenas um canadense que a Ariel te trocaria fácil, né? — Sei de quem ele está falando.

Shawn Mendes não é exatamente meu amigo, mas ele me ajudou em um momento muito importante. Acredito que ele não furaria meu olho, ainda mais que ele tem uma namorada linda.

— Ele não faria isso! — Falo com convicção, mas com um medo lá no fundo da minha alma.

— Pode ser, mas fora ele, acho que a Ariel não te trocaria por outro não.

— Eu espero. — Faço um passe para ele que me dribla e faz uma cesta.

— Cadê os meninos? — Olho no relógio.

— Não faço ideia, mas a gente tem que começar.

Mal termino a frase e Tyson, Dex e Beet vem entrando na quadra com o restante do time. Nos cumprimentamos e damos início ao treino.

É sempre um prazer jogar basquete. Acalma os meus pensamentos e tudo fica mais fácil de se perceber.

Passamos as nossas duas horas de prática e posicionamento técnico dentro da quadra colocando todo o nosso conhecimento para fora.

— O treino de hoje foi incrível, galera. Valeu. — Beet comenta.

— Mesmo sem o Henry aqui a gente se saiu muito bem. — Tyson completa.

— Isso, meus amigos se devem a determinação do meu melhor amigo. — Jack bate no meu ombro.

— Não fiz nada que o Henry não faria.

— Exatamente por isso foi incrível, Jason. — Dex fala.

Às vezes eu fico com medo das coisas que os meninos falam por talvez não dar conta do recado e acabar os decepcionando.

— Bom, agora se me derem licença, eu tenho uma gata me esperando. — Tyson fala e Dex murcha os ombros.

— Tenho que ir também, pessoal. Se cuidem. — Beet fala e os outros companheiros de equipe se despendem junto com ele e saem.

Jack, Dex e eu ficamos quietos.

— O que foi, Dex? — Pergunto cruzando os braços.

— É o Dylan. — Ele fala todo triste.

— O que o gêmeo do mal fez agora?

— Sabe o que aconteceu quando a sua namorada chegou?

— Que ele deu em cima da Ariel e se aproveitou quando descobriu que ela te conhecia?

— Isso.

— O que tem?

— Ele fez a mesma coisa de novo, só que agora foi pior, porque dessa garota eu gosto e agora não sei mais como chegar perto dela.

— Eu vou dar um sacode nesse moleque. — Falo entredentes e Jack coloca a mão no meu ombro parando o meu movimento, pois já estava de saída para quebrar a cara dele.

— Não podemos resolver isso com violência, Jason. O irmão dele tem que aprender o lugar dele.

— Tive uma ideia.

— Oh, merda. Essa cara endiabrada não me diz que é uma coisa boa, tipo uma conversa civilizada ou…

— Nada disso vai adiantar com o Zé Ruela do irmão do Dex. Nós temos que ser radicais e eu já sei como. Vamos para a minha casa. Ariel está dando as aulas de natação dela, depois vai para o curso de canto. Teremos tempo e espaço para o meu plano.

— Alô, Les. Eu vou me atrasar. — Ouço Jack ao telefone. — É. Exatamente… Não, não tinha um amigo melhor. — Uma pausa. — Tá bom. Te vejo mais tarde. Tá tudo em ordem.

O Jack nunca fala tão certinho com a namorada. Alguma coisa está estranha e eu não sei o que é ainda, mas vou descobrir. Talvez eles estejam planejando a festa do meu aniversário que será na sexta que vem, mas não tenho certeza, por isso vou ficar na minha.

Levamos Dex até em casa e eu explico o meu plano.

— Você tem que listar todas as gatas que o seu irmão conhece.

— Pra que?

— Principalmente as que ele tratou mal. Se ela suspeitar que vocês são gêmeos, diz que se confundiu e vai embora. A garota não pode saber dessa parte.

— Isso é fácil. Ele não fala pra ninguém que tem irmão, ainda mais gêmeo.

— Beleza. Sabe onde ele faz faculdade.

— Ele não faz faculdade.

— Que mané. — Jack fala.

— Por isso ele estraga sua vida. Você é melhor e vai ser muito bem sucedido que ele. Um Zé Goiaba que não sabe fazer nada.

— Primeiro você disse Zé Ruela, agora Zé Goiaba. O que isso significa? — Ás vezes eu esqueço que estou em outro país e que algumas das nossas gírias não são fáceis de se traduzir.

— Ele disse que o seu irmão não presta de dois jeitos diferentes. — Jack explica com um sorriso no rosto.

— Ok. Vamos começar.

Dex pega o celular do irmão escondido dele e volta para a minha casa.

— Como você conseguiu? — Pergunto.

— Ele passou a noite na farra e ainda mora com a mamãe. Passei lá para dar um beijo nela e peguei.

— Quanto tempo temos?

— Umas três horas. É o momento que a minha mãe se estresa e começa a arremessar as coisas nele e pergunta porque ele não é como eu.

— Acho que descobrimos um dos motivos para que ele sempre atrapalhe a sua vida.

— Pode ser.

Pego o telefone e começo a mexer. Acho umas meninas nas redes socias que ele estava conversando e vou mandando para o contato do Dex para que ele se familiarize com o rosto delas.

— A gente vai marcar alguma coisa?

— Com algumas. E você tem que ser muito meloso.

— Isso é fácil. — Ele sorri.

— Ótimo.

Dex observa dez garotas. Todas elas lindas e parecem ser simpáticas. E todas elas têm uma coisa em comum: frequentam o mesmo bar.

— Hoje a noite a gente se encontra lá e faremos um estrago na vida social do seu irmão. Temos que dar um jeito dele não aparecer lá hoje.

— Não se preocupe. Acabei de ver na conta dele que ele esteve nesse bar ontem. Ele não vai pisar aí por um bom tempo.

— Por causa das garotas?

— Exatamente. Deve ter recebido uma oral de cada uma delas.

— Melhor ainda.

— E ele sempre diz que vai voltar no dia seguinte…

— Típico cafajeste.

— Exato.

— Agora que já temos um plano e que vamos coloca‑lo em prática logo mais, vou voltar para a minha namorada.

— Eu vou só pra casa mesmo. Vejo você lá.

— Show, galera. É nois.

Jack e Dex deixam a minha casa e agora sim, vou tomar um banho. Preciso convencer Ariel para irmos nesse bar.

Não demora muito, e minha sereia vem entrando no apartamento.

— Oi, meu amor. — Vejo que ela está com a cara fechada.

Abraço sua cintura e a ergo do chão.

— Não, Jason. Agora, não. — Suas sobrancelhas se juntam e seu corpo se afasta de mim.

A coloco de volta no chão e ela passa para o quarto. Vou atrás. Isso nunca tinha acontecido antes.

— O que houve? — Apoio‑me no arco da porta.

— Nada. — E ainda continua com o bico emburrado no rosto.

— Com essa cara você quer que eu acredite que está tudo bem?

— Quero. — Ela começa a retira a roupa.

Não está um dia frio, mas Ariel sente mais frio do que a maioria das pessoas, então quando está agradável, ela ainda coloca uma malha aquecida por baixo de tudo. A única coisa que eu me esforço para nunca faltar é o aquecimento. Não quero nem ver se um dia esse negócio falhar.

— Impossível. — Aproximo‑me dela mais uma vez, só que agora com calma e me posiciono nas suas costas. — Me fala o que aconteceu. — Ela está de sutiã e calcinha e permanece calada. — Fala. Eu vou ouvir. — Afasto o seu cabelo para o lado e beijo seu ombro com delicadeza.

— O dia foi péssimo. Meus alunos da natação foram um pesadelo. — Vou subindo os beijos devagar pelo seu pescoço e vejo seus ombros relaxaram. — Eles não queriam fazer os exercícios dentro d’água e nem fora. Eles foram umas pestes. Aí, pra completar, a minha professora de canto faltou e colocou uma mulher horrível no lugar. Eu não tive um bom aproveitamento em nada hoje.

— Foi só um dia ruim. Vem aqui, que eu vou te fazer relaxar. — A viro de frente e beijo seus lábios.

São macios e tem gosto de café. Desço a alça do seu sutiã, depois de desabotoa‑lo.  Ela inclina a cabeça para o lado e me deixa fazer a minha inspeção por seu corpo. A deito de costas na cama e pego o seu óleo de massagem.

Tem alguns meses que estabelecemos isso. Sempre que ela chegar estressada a primeira coisa que eu devo fazer é uma massagem.

Despejo o óleo por seu corpo e começo a apertar sua pele com firmeza.

— Suas mãos estão mais calejadas.

— É a vida do trabalho pesado amor. — Continuo a apertar nos lugares certos.

— Verdade.

Depois de uns bons quinze minutos adorando o corpo da mulher que eu mais amo na vida depois da minha mãe e da minha avó, tiro a roupa e venero o corpo dela com o meu.

Nossos momentos juntos são mágicos. Eu esqueço de tudo. Todos os problemas desaparecem e só sobra a gente e o nosso prazer. Demorei a aprender como fazê‑la gozar, mas quando aprendi, não parei mais.

Ela achava que a gente ia se perder rápido na questão sexual, já que somos os primeiros parceiros de ambos, mas acho que a nossa falta de experiência nos fez querer aprender mais do outro e não ficar comparando com relacionamentos anteriores.

Depois do quarto orgasmo de Ariel, eu finalmente chego no meu ápice e desabo ao seu lado.

— Preciso de um banho. — Ela fala ofegante.

— E também de comida. — Olho em seu rosto suado. — Quero te levar em um lugar novo mais tarde.

— Onde? — Ela se apoia nos cotovelos.

— É um bar que o irmão do Dex conhece.

— Você não se dá bem com o Dylan. O que você quer frequentando o mesmo bar que ele? — Ariel se senta visivelmente mais amável do que estava quando chegou.

— Ah, é que ele é muito chato e fica atrapalhando a vida do Dex e eu quero que ele aprenda.

— Não tem nada a ver com o fato dele ter tentado me beijar se passando pelo Dex?

— Não… — Ela me olha como se fosse a minha mãe. — Tá bom. Tem sim. Eu não pude dar um sacode nele daquela vez e não vou deixar isso barato. — Sento‑me na cama com a cara muito fechada.

— Para com isso. Você não é mais criança. Não pode ficar fazendo esses planos por aí. Vai acabar dando errado.

— O Dante tem os mesmos planos. E ele é adulto e dono de um bar.

— Quem é Dante?

Uma das coisas que eu fiz para aprender mais como funciona a mente feminina foi ler esses romances de banca, tipo Sabrina, Julia e essas paradas.

Desse jeito eu encontrei várias autoras brasileiras de livro hot e uma delas foi a Mari Monni. Dante é uma criação dela[1].

— É um personagem de um livro. — Falo quando vejo que Ariel ainda me encara esperando uma resposta.

— Que livro? Nunca vi você lendo nada.

— Tem um aplicativo chamado Kindle. Lá eu baixo os livros de graça e leio.

— Jason…

— É, eu sei. É ridículo. — Levanto‑me da cama. — Não quero mais falar sobre isso. Vamos nos arrumar que o Jack e o Dex estão esperando a gente.

— Eu vou ser a única mulher?

— Quem você acha que o Jack vai levar? — Seu sorriso confirma que não preciso dizer mais nada.

— Amor, não precisa ficar com vergonha de ler livro de menina. — Ela se levanta e me abraça por trás rindo muito.

— Isso é o que ganho por tentar ser um namorado bom. Já entendi.

— Não é isso!

— É sim. E seu fosse você lia o Dante. Gostei da história. A parte do sexo eu ia passar, mas precisava saber mais sobre o que fazer.

Entro no chuveiro e ela continua rindo da minha cara. Depois que se recompõe, ela entra no chuveiro.

— Obrigada amor. — Ela beija as minhas costas. — Se todo namorado fosse como você, teríamos mais homens entendidos sobre o prazer feminino.

— Sei. — Não sei porque eu fui mencionar o Dante.

Eu li esse livro tem muito tempo e ela não ficou sabendo. Até agora. Acho que foi por ela ter me questionado sobre os meus planos.

Terminamos o banho e nos trocamos até rápido. Adoro isso na minha namorada. Ariel nunca demorou muito para se arrumar e sempre vestiu o que quis. Posso não ser muito observador para algumas coisas, mas sei exatamente o que a minha namorada está usando por baixo da roupa.

— Para de olhar pra minha bunda desse jeito! As pessoas vão notar. — Ela fala isso quando chegamos na calçada e caminhamos para o nosso carro.

— Não consigo evitar quando você coloca essa calcinha.

— Para, Jason! — O olhar dela é de promessa e eu acho que vou me dar bem de novo.

— Parei. — Ergo as mãos para o alto.

Entramos no carro e não demora muito, chegamos no bar que o Dex falou. Vejo Jack e Leslie no maior amaço na parede ao lado da porta do bar.

— Meu Deus. Arrumem um quarto. — Ariel fala e Leslie empurra o namorado.

Jack limpa os lábios e coloca as mãos nos bolsos.

— Nem parece que fazem isso vinte e quatro horas por dia.

— Não fazemos isso vinte e quatro horas por dia, Jason. Tem os momentos em que estamos separados. — Leslie também limpa o canto dos lábios.

— Cadê o Dex? — Pergunto.

— Ele mandou uma mensagem. Está perto.

— Legal e qual é o plano idiota que o seu namorado criou, amiga? — A namorada do meu amigo fala.

— Não é idiota. Se você não entende, o problema é seu. — Falo e quase me dá vontade de mostrar a língua para ela, mas lembrei do que Ariel falou mais cedo.

— Seguinte. — Jack chega mais perto de nós e ele conta para as meninas sobre o que viemos fazer hoje.

— Mas esse irmão do Dex tá precisando mesmo de um “chega pra lá.”

— Foi o que eu pensei.

— O plano não é lá essas coisas, mais vindo de você, Jason, até que não está ruim.

— Sinto que fui ofendido, mas agradeço mesmo assim.

— Oi, galera. Desculpa a demora.

— Sem problema. Não faz muito tempo que estamos esperando. — Jack fala.

— Que bom. Por um momento pensei em desistir, mas não quero mais ter a minha vida arruinada por Dylan. Ele tem que pagar.

— É isso mesmo. — Ergo a mão para que ele faça um “high five”, mas é tão sem vida que estou sentindo que o plano não vai dá certo. — Para com esse desamino. Vem. Ouvi dizer que a coragem líquida faz milagres. — Coloco a mão no ombro dele e caminho para dentro do bar.

— Jason, você sempre diz que o nosso corpo é um templo e blá blá blá! Vai fazer o menino beber mesmo? — Jack pergunta preocupado.

— Uma vez não vai matar, Jack. Ele precisa fazer isso para ter paz.

— Ele tem razão, amor. — Leslie fala.

— Tudo bem. Eu confio em você.

— Não devia, mas agora eu estou de acordo.

— Se não vai ajudar, não atrapalha, tá? — Falo para a namorada do meu melhor amigo.

Entramos no bar e sentamos em uma mesa. Todos nós tomamos suco, menos o Dex. Ele estava quase amarelando quando ele chegou. Precisa de coragem. Logo um copo de cerveja é posto na sua frente.

— Isso é praticamente água pra quem precisa de coragem. — Fala Leslie, um pouco indignada.

— Ele não tem costume. Se dermos vodka pra ele, pode ser que não consiga fazer nada. — Falo.

— Olha, Jason. Acabei de ver a primeira moça e ela está vindo para cá. — Jack cochicha no meu ouvido.

— Olha, Dex. Toma um gole. — Empurro a cerveja para ele.

— Não sei se é uma boa ideia.

— Seu irmão não teve pena de você quando queimou o seu filme. — Ele encara a bebida com a motivação renovada.

Ele pega o copo de cerveja e toma todo o conteúdo. Todos nós o observamos beber e eu confesso que fiquei com um pouco de dó dele.

— Oi, Dylan. — A moça se aproxima da mesa quando Dex termina de colocar o copo em cima da mesa. — Por que não me respondeu quando eu mandei mensagem. — Ela sorri e passa a mão pelo braço dele.

— Desculpe, gata. Eu tava ocupado com mais três.

— Você disse que eu era a única.

— Naquele dia, amor. Eu não me apego, sabe? — Dou um chute na perna dele.

— É pra você fazer o contrário. — Falo baixo.

— Quer que eu seja romântico com ela? — Ele responde no mesmo tom.

— É. — Os olhos do Dex se abrem e parece que agora ele entendeu.

— Você é um galinha. — Quando ela vai dar um tapa na cara dele, Dex se levanta e se protege do tapa, mas alguma coisa na postura dele, faz a moça esperar.

— Desculpe, Jenifer. Eu não queria pagar de bom moço na frente dos meus amigos, mas é que eu me… — Ele faz uma pausa e olha para ela com os olhos brilhando. — … apaixonei por você e não queria admitir assim tão rápido. Me perdoe. — Dex olha para baixo e parece que ele acertou mesmo o nome da moça, pois ela segura o queixo dele e dá um beijo em seus lábios.

— Oh, Dylan. Eu não sabia que você se apaixonava tão rápido. Me desculpe por ser agressiva com você. Pode me dá um minuto. Eu vou dispensar as minhas amigas e já volto. — Ela o beija mais uma vez e sai.

— Cara, você devia ser ator e não jogador de basquete. — Leslie fala.

— Eu fiz aula de teatro no freshman[2].

— Legal. Você foi muito bem. E o que vai fazer quando ela voltar? — Ariel pergunta com os braços cruzados. Sei que não está nem um pouco confortável com isso.

— Eu não sei. — E sorri.

Podemos ver que Dex está alterado por causa da bebida.

— Oh, gente! — Jack chama a nossa atenção. — Tem mais uma garota vindo para cá. — Todos olhamos na direção que meu amigo aponta.

Dex olha no seu celular rapidamente e o guarda de volta.

— Stace, eu estava pensando em você! — Dex dispara e chega na moça antes que ela se aproxime.

— Jura? — O sorriso que ela abre é de orelha a orelha.

— Claro, gata. Eu sou todo seu. Estou muito apaixonado.

— Hum, eu sabia que a gente tinha uma conexão diferente. Senti isso quando ficamos juntos.

— Quer namorar comigo?

A tal da Staci faz uma cara que surpresa, mas abre de novo o sorriso de propaganda de creme dental e o beija com gosto.

— Jason, acho que isso não vai acabar bem.

— Espero que não acabe mesmo. Para o Dylan.

O resumo da noite foi que Dex teve sorte e conseguiu falar com cada garota individualmente e saímos antes de todas elas voltarem, o que todas prometeram.

Ainda bem que Dex não bebeu muito, foi preciso levá‑lo para casa. Não estava em condições de dirigir. No final tudo deu certo e ele não apanhou. Ainda.

No domingo, quando acordei, Ariel não estava ao meu lado mais uma vez. Tem uma semana que ela vem fazendo isso e sempre que pergunto onde ela foi, sempre me diz que foi na padaria, mas ela demora muito lá.

Ela sabe que eu sou um cara matinal e as sete da manhã estou de pé.

Mas hoje não vou ficar aqui que nem um otário esperando por ela. Vou na casa dos meus avós. Visto uma roupa mais quente, já o tempo tem estado frio.

Não demoro muito e chego no apartamento da minha avó.

— Meu filho! O que faz aqui? Era pra estar com a sua galera. — Minha vó sempre tentou ser descolada, mas nunca dá certo.

— Fiquei com saudade. — Abraço a senhorinha de cabelos brancos que sempre foi como um porto seguro para mim, assim como minha mãe e na falta dela, não tenho vergonha de pedir colo para dona Ilária.

— O que aconteceu, meu menino?

— Não sei, vó. A Ariel tá toda estranha. Todos os dias ela sai antes que eu acorde e quando volta está toda brava. Ela não fala comigo e olha que eu já perguntei várias vezes. Até contei uma coisa constrangedora que eu fiz por ela, mas mesmo assim não deu certo.

— Venha aqui. — Ela me puxa para sentarmos no sofá da sala, depois de tirar o meu casaco e pendurar no cabideiro. — Tem coisas que as vezes a gente não pode contar para o nosso namorado, marido, companheiro… dê um tempo para ela. Continue sendo você mesmo e se ainda assim ela não contar, a coloque contra a parede.

— Sabe o que eu penso vó? A gente passou por algumas coisas, como a minha vinda pra cá e eu penso que ela não usaria a desculpa de me ver para vir morar aqui. Será que ela deixou de me amar?

— Ela disse isso? — Olho para minhas mãos.

— Não, mas eu tenho medo. A Ariel não é de ficar calada. Quem tem problemas em falar da relação, sou eu e mesmo assim eu estou tentando dar um jeito nisso.

— Se eu fosse você esperava mais um pouco. Vai só deixando claro de que está aqui para ela e não vai a lugar nenhum.

Pela primeira vez no dia, sorrio.

— Obrigado, vó. — Beijo sua testa.

— Por nada. Agora vamos comer. — Ela se levanta e caminha para a cozinha.

— Não precisa pedir duas vezes. — Sorrio e a acompanho.

Depois de uma manhã agradável com meus avós, volto para casa e encontro Ariel sentada na sala com os braços cruzados e balançando a perna.

— Onde o senhor estava?

— Onde a senhora estava? — Rebato a mesma pergunta tirando o casaco.

— Muito engraçado. Sabe que eu estava com a Leslie. A gente sempre se fala nos domingos de manhã. — Ela estreia os olhos na minha direção.

— Hum. Não lembrava que vocês tinham esse acordo. — Vou para a cozinha.

— É, mas eu deixei um recado pra você. — Ela me acompanha. — No quadro.

— Mesmo? Não vi.

— Jason, o que está acontecendo? Estava tudo bem ontem e agora você tá todo estranho.

— Se você não estivesse escondendo nada de mim, estaria tudo bem. — Ariel dá um passo atrás e me encara surpresa. — Posso ser meio leso às vezes, mas percebo quando você age diferente comigo ou muda alguma coisa na sua rotina e não me avisa.

— Não mudei nada. — Ela fala um pouco baixo. — Você está se confundindo. Está tudo como sempre.

— E por que você sempre chega estressada do trabalho? Tem alguma coisa que eu precise saber?

— Tem, mas não é pra saber agora.

— Ah, então você está me escondendo algo?

— Eu ainda estou esperando a confirmação e não quero que fique com expectativas, tá bom? — Nesse negócio de esperar, a Ariel é bem mais paciente do que eu.

Sei que se eu souber do que quer que seja, vou querer uma resposta rápida e nesse ponto ela me conhece bem.

— É alguma coisa de trabalho? — Pergunto mais calmo.

Ariel abraça os cotovelos e confirma. Seu semblante é de tristeza e acho que não é uma coisa boa que ela está esperando.

— Olha, seja lá que o for, eu estou aqui, tá bom? — A abraço e Ariel retribui.

— Obrigada, amor. Com você ao meu lado eu posso tudo. — Beijo o alto da sua cabeça.

— O que tem pra comer?

— Sabia que diria isso. — Ela sorri e vai até o micro-ondas. — Lasanha.

— Minha favorita.

Sentamos e comemos sem amis atritos, mas na manhã seguinte, ela fez a mesma coisa; saiu antes de mim e fiquei sem vê‑la praticamente o dia todo. Olho o nosso muro de recados, que era onde Jack e eu anotávamos as tarefas do dia e realmente tem uma mensagem dela lá.

 

Bom dia amor. Desculpa sair antes de você de novo, mas preciso resolver uma coisa na faculdade. Volto na hora do almoço. Se quiser, posso te esperar. Me manda uma mensagem do celular, tá?

Com amor, Ariel.

 

Eu quero ficar com raiva, mas não consigo diante dessa mensagem tão atenciosa da minha namorada. Por isso, fico tranquilo e começo o meu dia.

E tudo segue tranquilo. Dex me contou como as coisas ficaram com o seu irmão e vou te contar, ele é o mais odiado entre as garotas que ele ficou no bar.

Espero que assim, ele deixe a vida do irmão em paz.

E a minha vida é que não está nenhum um pouco em paz. Jack também está me evitando e não estou gostando nada disso.

Na sexta feira, resolvo confrontar o meu amigo, mas ouço uma conversa no mínimo estranha do meu melhor amigo. Ele está no vestiário depois que todo mundo saiu, ao telefone.

— Não, Ariel. Ele não sabe de nada. Nem ela. Pode deixar. Tá tudo no esquema. Eu também. Agora? — Ele olha para os lados e eu me escondo atrás de um dos armários. — Tá. Tem certeza? Não quer esperar mais um pouco? Tudo bem. — Ele para de falar e dou uma olhada na direção dele.

Vejo que pegou a sua mochila e saiu. Uma raiva, uma vontade de esmurrar a cara dele e dela me faz questionar tudo. Como ele pode fazer isso comigo? Com a Leslie? Pelo pouco que eu conheço dela, não vai sobrar nada do meu ex‑melhor amigo.

Lágrimas querem molhar o meu rosto, mas não posso perdê‑lo de vista. Dou alguns passos e ainda consigo alcançá‑lo. Ele entra no carro e faço o máximo para não ser percebido por ele e tenho sucesso.

Chegamos no teatro da faculdade, onde a Ariel tem passado a maior parte dos seus dias. Ainda bem que ela não resolveu fazer essa canalhice na nossa casa. Seria um golpe severo demais.

Não sei se intercepto ele antes de entrar, ou se espero ele entrar e o pego com a boca na minha namorada, quer dizer, ex‑namorada.

E pensar que eu tatuei o nome dela. Achei que seria diferente, mas o Dante tinha razão. Eu devia não ter me apaixonado. Dante, você é o cara. Prometo que vou dar mais atenção a você.

Não vou conseguir ver Ariel nos braços do Jack, o estripador de amigos. Saio do carro rápido, antes que ele chegue até a porta e paro na sua frente.

A surpresa em seu rosto é nítida.

— Jason? O que está fazendo aqui? — Ele cruza os braços e me encara, sem saber onde colocar os braços.

— Eu é que pergunto o que você está fazendo aqui? No lugar que a minha traidora namorada passa todos os dias dela? — O olho como se ele não fosse nada, mas ao mesmo tempo não posso ignorar essa pontada no meu peito.

— Bom, eu vim aqui… — Não consigo deixá‑lo falar.

— Como você pode? — Ele sorri.

— Jason…

— Eu nunca esperei isso de você. — Dou um passo para frente e Jack dá a volta e fica de costas para a porta do anexo do teatro.

— Calma, amigo!

— Calma? Como você tem a coragem de me pedir calma? Era por isso que você e ela estavam estranhos. — Dou mais um passo e ele encosta na porta.

— Não é isso, Jason! Respira!

— Eu vou respirar, quando arrancar todos os dentes da sua boca! — Não percebi que estava gritando. — Seu miserável! — Seguro a gola do seu casaco e quando preparo o punho no ar para acertar a cara sínica do meu ex‑melhor amigo, a porta atrás dele se abre.

E a cena mais inusitada de todas aparece na minha frente.

Todos os meus amigos estão aqui. Menos os meninos do Brasil, mas todos os caras do time, meus avós e até a minha mãe e também a minha namorada.

— SURPRESA!!!!!! — Todos gritam.

Tem uma faixa enorme com meu nome escrito.

FELIZ ANIVERSÁRIO BOCÓ!!!!

— Parabéns, meu amigo. — Jack coloca a mão sobre a minha e eu solto sua camisa.

— Jack… — O olho com perplexidade. — Eu… pensei…

— Eu sei o que você pensou. Foi de propósito.

— De quem…

— Foi minha. — Leslie sai do meio do povo.

— Você?

— Eu sabia que se a gente começasse a agir estranho com você não ia se lembrar de infernizar a nossa vida perguntando se a gente ia fazer uma festa surpresa ou se ia ganhar um presente. Gostou?

— Eu odiei. Quase acerto um murro no meu melhor amigo.

— É tudo pelo show biss, Jason! — Dex fala.

— Tô vendo.

— Me perdoa, meu amor. Eu fiquei com o coração na mão hoje de manhã.

— E o que você ia fazer na faculdade?

— Eu fui até o aeroporto buscar sua mãe. — E nisso a outra mulher mais importante da minha vida, se aproxima e me abraça apertado.

— Oh, meu filho! Que saudade!

— Nem me fala, mãe. — Afundo meu rosto em seu pescoço e quase choro, se estivéssemos sozinhos, com certeza eu estaria que nem uma criança agora.

— Isso foi armação da senhora também? — Olho para a senhora de cabelos brancos com um sorriso lindo no rosto.

— Claro. Ariel e eu arquitetamos tudo.

— Você me paga. — Solto minha mãe e abraço minha namorada pela cintura a tirando do chão.

— Sinto muito. — Seus olhos estão marejados por ter visto a minha cena de reencontro com a minha mãe depois de três anos longe.

— Eu te amo, minha Sereia.

— Eu te amo, também, seu maluco.

— Essa festa realmente está a minha altura.

— Eu sei. — Ela sorrir e beijo seus lábios.

Ah, como eu amo essa mulher!

 

[1] O personagem citado é do livro “Nunca vou me apaixonar” da Mari Monni.

[2] É como se fosse o primeiro ano do ensino médio, só que lá são quatro anos.

Gente, obrigada por ter acompanhado esse pequeno conto de reencontro dos meus personagens mais querido.

Essa história está no Inkspired. Se puder da uma passadinha lá, eu agradeço:

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